sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Motivação na escola

A motivação é um processo que se dá no interior do sujeito, estando, entretanto, intimamente ligado às relações de troca que o mesmo estabelece com o meio, principalmente, seus professores e colegas. Nas situações escolares, o interesse é indispensável para que o aluno tenha motivos de ação no sentido de apropriar-se do conhecimento.

A motivação é um fator que deve ser equacionado no contexto da educação, ciência e tecnologia, tendo grande importância na análise do processo educativo. A motivação apresenta-se como o aspecto dinâmico da ação: é o que leva o sujeito a agir, ou seja, o que o leva a iniciar uma ação, a orientá-la em função de certos objetivos, a decidir a sua continuidade e o seu termo.

A motivação é, portanto, o processo que mobiliza o organismo para a ação, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o objeto de satisfação. Isso significa que, na base da motivação, está sempre um organismo que apresenta uma necessidade, um desejo, uma intenção, um interesse, uma vontade ou uma predisposição para agir. A motivação está também incluído o ambiente que estimula o organismo e que oferece o objeto de satisfação. E, por fim, na motivação está incluído o objeto que aparece como a possibilidade de satisfação da necessidade.

Uma das grandes virtudes da motivação é melhorar a atenção e a concentração, nessa perspectiva pode-se dizer que a motivação é a força que move o sujeito a realizar atividades. Ao sentir-se motivado o indivíduo  tem vontade de fazer alguma coisa e se torna capaz de manter o esforço necessário durante o tempo necessário para atingir o objetivo proposto.

A preocupação do ensino tem sido a de criar condições tais que o aluno "fique a fim" de aprender. Diante desse contexto percebe-se que a motivação deve ser considerada pelos professores de forma cuidadosa, procurando mobilizar as capacidades e potencialidades dos alunos a este nível.

Torna-se tarefa primordial do professor identificar e aproveitar aquilo que atrai o aluno, aquilo do ele gosta, como modo de privilegiar seus interesses. Motivar passa a ser, também um trabalho de atrair, encantar, prender a atenção, seduzir o aluno, utilizando o que ele gosta de fazer como forma de engajá-lo no ensino.

domingo, 17 de novembro de 2013

Secretaria de Estado do Ambiente lança reciclagem de óleo de cozinha usado em escolas


Com apoio crescente de restaurantes e condomínios, programa para transformar óleo vegetal em COV (combustível de óleo vegetal) e sabão chega a dez colégio públicos. Com a distribuição de funis e a instalação de um ecoponto para o recolhimento de óleo de cozinha usado, no Colégio Estadual Brigadeiro Schorcht, na Taquara, a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) lançam na segunda-feira, 18 de novembro, o Programa Prove nas Escolas.

O Programa de Reaproveitamento de Óleo Vegetal (prove) visa a estimular a cadeia da reciclagem de óleo de cozinha usado como matéria-prima na produção de COV e de sabão.

Contando com o apoio crescente de restaurantes, hotéis e condomínios, entre outros, o Prove está chegando agora nas escolas públicas: inicialmente, dez colégios se tornarão ecopontos de recolhimento de óleo vegetal.

O secretário do Ambiente, Carlos Minc, participará do participará do lançamento do Prove no Colégio Estadual Brigadeiro Schorcht, que foi escolhido para a instalação do primeiro ecoponto devido ao seu simbolismo: três professores modificaram uma antiga Mercedes-Benz movida a diesel para que funcionasse à base de óleo vegetal.

Num efeito demonstrativo das potencialidades do uso de óleo de cozinha reciclado na produção de COV (biodiesel), as escolas que aderiram ao Prove servirão de pontos de parada e abastecimento do carro.


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Dia do professor sem festa

Há 50 anos, o então presidente da República, João Goulart, decidiu prestar homenagem a todos os mestres do Brasil decretando 15 de outubro como o Dia do Professor. O ato instituiu feriado escolar nacional. A intenção era promover solenidades em que se enaltecesse a função do mestre na sociedade, com a participação de alunos e suas famílias.

Meio século depois, os profissionais de educação não têm muito o que comemorar. Em meio a greves que se arrastam por meses e sem soluções à vista para os impasses que ameaça o ano eletivo nas redes municipais e estaduais, a educação pública enfrenta uma de suas piores crises.

De acordo com pesquisa mundial que mediu o status dos docentes em 21 países e colocou o Brasil na penúltima posição, 45% dos brasileiros não encorajariam seus filhos a serem professores.

Na terra dos Tigres Asiáticos, onde o magistério está no topo das profissões mais respeitadas, ex-alunos costumam celebrar o Dia do Professor enviando cartão ou levando presentes na casa de antigos mestres.

É assim na China e na Coreia do Sul, que expressam gratidão a seus professores nos dias 28 de setembro e 15 de maio, respectivamente. Gestos que ilustram p motivo pelo qual os dois países ocupam o primeiro e segundo lugares no Pisa, Programa de Avaliação Internacional de Estudantes, que mede os conhecimentos em Português, Matemática e Ciências.

Por aqui, décadas de descaso levaram o país para a lanterna do ranking global do ensino de qualidade. Entre os 65 países pesquisados, o Brasil está na 53ª posição.

Por Flávio Araújo


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Merenda, diploma e bala de borracha

Por João Batista Damasceno

A truculência da polícia do estado contra professores é apenas uma das que se praticam contra a sociedade. É forma de impedir que floresça, na primavera, o projeto dos educadores, que não é apenas salário, mas educação pública de qualidade, coisa que governos subordinados aos interesses dos "senhores de engenho contemporâneo" não aceitam. E não poderiam aceitar, pois contrapõe aos seus interesses.

O educador Paulo freire disse que "seria atitude muito ingênua esperar que a classe dominante desenvolvesse uma educação de forma que permitissem aos dominados perceberem as injustiças sociais de forma crítica".

Quando o coronel Jarbas Passarinho era ministro da Educação de Médici, Lauro de Oliveira Lima escreveu um livro com o sugestivo nome de "Estórias da educação no brasil: de Pombal a Passarinho". A questão sempre foi: quem dirigirá a Educação, quem serão os educadores, quem será educado e para que se educará? No Império e República Velha os filhos da elite eram formados pela Igreja ou em escolas europeias, para onde iam a fim de se socializarem para o colonialismo cultural.

A Revolução de 30 retomou o dilema: quem educará os filhos do povo no país em transformação? A Igreja pretendeu a função, a fim de formar ao seu modo. Mas Getúlio Vargas optou pela educação pública, republicana e única capaz de formar cidadãos com valores comuns, e foram criados Institutos de Educação, escolas diversas e Universidades Federais. O educador Anísio Teixeira desenvolveu projeto educacional, e Darcy Ribeiro também teve o seu papel.

Na atualidade, desmontam-se os direitos dos trabalhadores no Brasil e extinguem a educação pública de qualidade para os seus filhos. Escolas particulares formam grupos e segmentos da elite, com visões particularizadas. É proposital o desmonte do ensino público que formaria cidadãos qualificados, capazes da transformação social. O que os governantes desejam oferecer aos filhos dos trabalhadores não é Educação. Mas apenas merenda e diploma.

João Batista Damasceno é Doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito. Membro da Associação Juízes para a Democracia


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Coragem para ter medo

Costumamos nos agarrar ao que é conhecido, a emoções reprisadas, à manutenção do já visto, já feito - raramente arriscamos perder o chão sob nossos pés. Até que alguém dá um salto mortal bem na nossa frente, e não se estatela, ao contrário, se sobressai. É quando dá vontade de ter coragem também. Coragem de sentir medo. E então descobrir que o destino não nos abandonou como parecia. Só estava esperando que a gente se tornasse mais merecedor de seu sorriso.  (Martha Medeiros)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A importância da motivação no processo de aprendizagem

Por Sandra Vaz de Lima

O processo de aprendizagem é pessoal, sendo resultado de construção e experiências passadas que influenciam as aprendizagens futuras. Dessa forma a aprendizagem numa perspectiva cognitivo-construtivista é como uma construção pessoal resultante de um processo experimental, interior à pessoa e que se manifesta por uma modificação de comportamento.

Ao aprender o sujeito acrescenta aos conhecimentos que possui novos conhecimentos, fazendo ligações àqueles já existentes. E durante o seu trajeto educativo tem a possibilidade de adquirir uma estrutura cognitiva clara, estável e organizada de forma adequada, tendo a vantagem de poder consolidar conhecimentos novos, complementares e relacionados de alguma forma.

A aprendizagem está envolvida em múltiplos fatores, que se implicam mutuamente e que embora possamos analisá-los separadamente, fazem parte de um todo que depende, quer na sua natureza, quer na sua qualidade, de uma série de condições internas e externas ao sujeito.

A aprendizagem é um fenômeno extremamente complexo, envolvendo aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais. A aprendizagem é resultante do desenvolvimento de aptidões e de conhecimentos, bem como da transferência destes para novas situações.

A abordagem cognitivista diferencia a aprendizagem mecânica da aprendizagem significativa. A aprendizagem mecânica refere-se à aprendizagem de novas informações com pouca ou nenhuma associação com conceitos já existentes na estrutura cognitiva. Já a aprendizagem significativa processa-se quando um novo conteúdo (idéias ou informações, relaciona-se com conceitos relevantes, claros e disponíveis na estrutura cognitiva, senso assim assimilado.

O principal objetivo da educação é o de levar o aluno com um certo nível inicial a atingir um determinado nível final. Se conseguir fazer com que o aluno passe de um nível para outro, então terá registrado um processo de aprendizagem.

Cabe aos educadores proporcionar situações de interação tais, que despertem no educando motivação para interação com o objeto do conhecimento, com seus colegas e com os próprios professores.

Porque, mesmo que a aprendizagem ocorra na intimidade do sujeito, o processo de construção do conhecimento dá-se na diversidade e na qualidade das suas interações. Por isso a ação educativa da escola deve propiciar ao aluno oportunidades para que esse seja induzido a um esforço intencional, visando resultados esperados e compreendidos.

É necessário refletir que cada indivíduo apresenta um conjunto de estratégias que cada indivíduo apresenta um conjunto de estratégias cognitivas que mobilizam o processo de aprendizagem  Em outras palavras, cada pessoa aprende a seu modo, estilo e ritmo. Embora haja discordâncias entre os estudiosos, estes são quatro categorias representativas dos estilos de aprendizagem.

O conhecimento pode ainda ser aprendido como um processo ou como um produto. Quando nos referimos a uma acumulação de teorias, idéias e conceitos o conhecimento surge como um produto resultante dessas aprendizagens, mas como todo produto é indissociável de um processo, podemos então olhar o conhecimento como uma atividade intelectual através da qual é feita a apreensão de algo exterior à pessoa.

No nível social podemos considerar a aprendizagem como um dos pólos do par ensino-aprendizagem, cuja síntese constitui o processo educativo. Tal processo compreende todos os comportamentos dedicados à transmissão da cultura, inclusive os objetivados como instituições que, específica (escola) ou secundariamente (família), promovem a educação. Através dela o sujeito histórico exercita, usa utensílios, fabrica e reza segundo a modalidade própria de seu grupo de pertença.

Assim, na concepção de Vygotsky, o pensamento verbal não é uma forma de comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo histórico-cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas formas naturais de pensamento e fala. Segundo Vygotsky, uma vez admitido o caráter histórico do pensamento verbal, devemos considerá-lo sujeito a todas as premissas do materialismo histórico, que são válidas para qualquer fenômeno histórico na sociedade humana.

Vygotsky diz ainda que o pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-volitiva. Uma compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo-volutiva.


A aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. A relação do individuo com o mundo está sempre medida pelo outro. Não há como aprender a apreender o mundo se não tivermos o outro, aquele que nos fornece os significados que permitem pensar o mundo a nossa volta. Não há um desenvolvimento pronto e previsto dentro de nós que vai se atualizando conforme o tempo passa ou recebemos influência externa.

Com isso entende-se que o desenvolvimento do indivíduo é um processo que se dá de fora para dentro, sendo que o meio influencia o processo de ensino-aprendizagem. Se a aprendizagem está em função não só da comunicação, mas também do nível de desenvolvimento alcançado, adquire então relevo especial - além da análise do processo de comunicação - análise do modo como o sujeito constrói os conceitos comunicados e, portanto, a análise do modo como o sujeito constrói os conceitos comunicados e, portanto, a análise quantitativa das "estratégias", dos erros, do processo de generalização. Trata-se de compreender como funcionam esses mecanismos mentais que permitem a construção dos conceitos e que se modificam em função do desenvolvimento.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Na Natureza Selvagem

Odeio quando alguém me conta o final de um filme ou livro. Não precisa nem ser uma obra que eu tenho interesse em conhecer! Acho uma deslealdade e um desrespeito com o autor, o diretor, todo mundo envolvido na produção... Tanto trabalho para alguém simplesmente reduzir tudo em poucas sentenças de improviso. Quem cria quer, pelo menos, ser prestigiado.

Não é essa minha intenção com esse texto. Não quero contar a história do filme Na Natureza Selvagem, nem descrever o óbvio, presente em quase todas as resenhas... Que o filme é bom, que o diretor é sensível (o famoso Sean Penn), que a história é muito bem escrita (pelo talentoso Jon Krakauer, autor também do livro No Ar Rarefeito), que o elenco é primoroso, que a trilha sonora é fantástica, que a fotografia é sensacional...

Gostaria de explicar porque gosto tanto deste filme... Por que é muito mais que um filme de um livro, é um filme sobre vários livros e as ideias que eles representam.

Não coincidentemente, eu li todos os principais autores citados no filme: Leon Tolstoi, Jack London e Henry Thoreau. Conhecer o trabalho desses pensadores é essencial para entender a história e a mensagem do filme.  E que me desculpem os iletrados de plantão, que acham que internet e Hollywood bastam!

Mas qual mensagem é essa, afinal?

O mais óbvio, que todo mundo percebe imediatamente, é que o personagem é revoltado com o mundo que o cerca, representado por seus pais. Ele não quer fazer parte da sociedade de consumo, busca a essência da vida e a verdade das coisas, escolhe o caminho comum aos espíritos inquietos: a estrada, o movimento, o mundo.

Mas não qualquer estrada. Não se trata de um road movie, mas de um filme outdoor. Vários passos antes na evolução dos caminhos, já que toda estrada um dia já foi uma trilha. Esse é um filme sobre trilhas, no sentido de "caminhos na natureza". Coincidentemente, minha especialidade.

Leon Tolstoi, Jack London e Henry Thoreau eram espíritos inquietos, criativos, destemidos, que não se contentaram com o mundo que lhes foi apresentado (mesmo em uma bandeja de prata, como aconteceu com os três). Todos eles escolheram o caminho da natureza para buscar suas verdades, cada um no seu estilo, cada um atrás de sua própria verdade. Por que eles se tornaram famosos, respeitados e, como acontece no filme, copiados mesmo séculos depois? Porque a verdade que eles encontraram é universal e, portanto, comum a todos os seres humanos, sempre.

Leon Tolstoi preferiu viver no campo, com mujiques (lavradores russos pré-revolução Bolchevique) e mesmo já sendo um escritor famoso, rico e mundialmente respeitado, humildemente aprendeu muito com os homens da terra. Jack London tentou ser garimpeiro no Alasca e viu a natureza como algo  cheio de humanidade e a humanidade como algo natural. Henry Thoreau enxergou o câncer na sociedade de consumo antes mesmo dela existir como conceito, afastou-se momentaneamente da sociedade e viveu um período recluso, auto-suficiente e alheio a tudo que não fosse natural. Todos os três escreveram excelentes livros que até hoje (como fica claro no filme) influenciam vidas.

O protagonista do filme mistura muito bem esses três autores e suas visões do mundo na sua história. A firme moralidade de Leon Tolstoi, como quando  ele se recusa a seduzir uma linda jovem apaixonada  por ele. A bússola e a intrepidez de Jack London, ao decidir viver sua experiência de contato intenso com a natureza no Alasca ou descer o Rio Colorado em um caiaque. A técnica de Henry Thoreau, ao se preparar para viver de suas próprias e limitadas habilidades e daquilo que a natureza oferecem ser auto-suficiente, independente e autônomo, usando essa experiência como grande aprendizado de vida.

Mas vejo fortes influências religiosas no filme também, ou espirituais, que algumas pessoas vão associar a Jesus Cristo, Buda, Alá ou qualquer outro intérprete oficial dos mistérios da vida. "Felicidade só é verdadeira quando compartilhada", escreve o protagonista do filme nas cenas finais. Tolstoi e Thoreau, cada um ao seu modo, também enxergaram isso. O primeiro fundando uma comunidade "hippie" um século antes do movimento existir, o segundo produzindo livros com "fórmulas" de libertação de uma sociedade de consumo que transforma consumidores também em produtos.

O título do filme (e do livro) traz um excelente resumo filosófico da história: a natureza é selvagem e, portanto, viver nela exige atenção e cuidados especiais. Não somos muito diferentes de qualquer outro animal. O que nos difere dos outros bichos não é necessariamente o que nos separa deles. Somos capazes do raciocínio, mas desde que deixamos de ser caça, não conseguimos abandonar a mentalidade de predador.

Selvagem não é sinônimo de ruim. A natureza não é ruim. Nosso despreparo no convívio com ela é que pode ter consequências indesejáveis e irreversíveis. Isso fica claro no filme. Muita gente pode até acreditar que essa é a mensagem final, a grande moral da história. mas não é.

Viver de acordo com suas verdades e ter sempre a humildade de ser um aprendiz na vida, buscando as verdades mais sutis, com esforço e comprometimento, é uma das grandes mensagens da história. O próprio protagonista do filme diz isso, sem pudor, a outro personagem, já idoso, incitando-o a "voltar a viver". E o velhinho sobe uma montanha na sequência. Essa é outra mensagem importante do filme: no conforto artificial de nossas casas e cidades, longe da "natureza selvagem", não existem verdades universais, tudo é controlado, modificado e vazio de conteúdo.

Viver (e por que não, morrer, já que todos nós caminhamos para esse fim, cada um no seu ritmo) na busca das grandes verdades comuns a todos é viver uma vida rica e completa. Os acomodados não vivem simplesmente "dão expediente na Terra".

Por outro lado, o filme mostra que ideias, ideais, conceitos são tão perigosos quanto a natureza. Ambos podem ser letais. Ambos podem ser implacáveis. Nesse caso, quem é familiarizado com filosofias e religiões orientais, como o budismo, vai sempre lembrar do "Caminho do Meio", da moderação, da leveza a cada passo.

Outra coisa que me impressiona muito no filme é a pesquisa por trás dele... Imagino que Jon Krakauer tenha trabalhado duro como detetive, para costurar toda a trama do enredo, descobrir detalhes das andanças do protagonista da história. Imagino o quanto ele se envolveu com os personagens reais, já que a história é baseada em fatos verídicos. Imagino o quanto ele não aprendeu durante esse processo. Não deve ter sido nada fácil aos pais e à irmã do personagem principal o envolvimento com a produção, tanto do livro quanto do filme. Remoer tanta dor publicamente requer muita coragem, humildade e auto-questionamento.

Guilherme Cavallari

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Estratégias para motivar os alunos

Por Saul Neves

O professor na sala de aula é um líder, pois procura influenciar os seus alunos para que estes se interessem pelas aulas, estejam atentos, participem, apresentem comportamentos adequados e obtenham bons resultados escolares.

Neste contexto, importa analisar que fatores podem permitir aos professores influenciar os seus alunos ou, no mesmo sentido, o que é que leva os alunos a deixarem-se influenciar pelo professor. 

Podemos distinguir quatro grandes fatores de influência dos professores sobre os alunos: o reconhecimento do status do professor pelos alunos; o reconhecimento do professor, através das avaliações e das estratégias de gestão da indisciplina; o reconhecimento pelos alunos da competência do professor nos conhecimentos que este lhes pretende ensinar; o reconhecimento de certas qualidades pessoais e interpessoais no professor, apreciadas pelos alunos, desenvolvendo-se processos de identificação.

No passado, os alunos deixavam-se influenciar pelo professor por aceitarem pacificamente o seu status, por o considerarem competente na área de conhecimentos que devia ensinar e também por lhe reconhecerem poder para recompensar ou punir através das avaliações e das
estratégias de gestão da indisciplina, não sendo postas em causa as decisões tomadas pelo professor a este nível.

Atualmente, devido a múltiplos fatores, muitos alunos não se deixam influenciar pelo professor apenas devido ao fato de ser o “senhor doutor” ou “senhor professor” a sugerir, desvalorizam a escola como fonte de acesso ao saber ou conhecimento, colocando muitas vezes em dúvida a competência do professor, para além deste também ter vindo a perder poder no que diz respeito à capacidade de gestão da aprendizagem e da disciplina dos alunos. Inclusivamente, são freqüentemente contestadas as suas decisões pelos próprios alunos e pelos pais destes, para além de todo o trabalho burocrático exigido ao professor nas situações em que pretende reprovar algum aluno. 

Assim, dos quatro fatores de influência distinguidos, aquele que parece ter maior importância na atualidade é a identificação do aluno com o professor. Isto é, o sucesso do professor junto dos alunos passa muito pelo reconhecimento de certas qualidades pessoais e relacionais no primeiro que os últimos apreciam.

A identificação do aluno com o professor passa muito pela satisfação obtida na relação estabelecida. No entanto, muitas vezes há uma insatisfação recíproca na relação entre os professores e os alunos. Ao verificarmos que o docente privilegia na sua representação dos alunos os aspectos cognitivos, enquanto estes privilegiam na sua representação dos professores os aspectos afetivos e relacionais. Neste sentido, parece haver um “mal-entendido” na relação pedagógica, sendo importante que os professores se aproximem das necessidades relacionais e de desenvolvimento dos alunos, no sentido de os conseguirem influenciar ou motivar para o alcance dos objetivos da educação escolar no plano cognitivo. 

No passado, os alunos tinham que se adaptar aos métodos dos professores, mas atualmente o professor deve procurar ir ao encontro dos interesses e da linguagem dos alunos, sendo flexível (de acordo com o provérbio “professor, se eu não aprendo como tu me ensinas, ensina-me de forma que eu aprenda”) e dando o exemplo (um líder não pode funcionar segundo o princípio “faz o que eu digo e não o que eu faço”).

Para potencializar a criação de “laços” com os alunos e a motivação destes, os professores devem evitar o distanciamento, a “neutralidade afetiva” e o autoritarismo, devendo, ao contrário, fomentar uma “relação de agrado”, caracterizada pelo diálogo, pela negociação e pelo respeito mútuo.

Embora os professores tenham perdido poder nos últimos anos, dificultando a utilização de alguns fatores de influência sobre os alunos que no passado resultavam, continuam a possuir um instrumento fundamental para conseguirem criar laços de identificação com os alunos, influenciando-os: a linguagem utilizada na relação pedagógica, quer verbal, quer não verbal.

Algumas das frases que o professor pode utilizar para uma “relação de agrado” são as seguintes: “devia estar orgulhoso dos seus resultados”, em vez de “estou orgulhoso de você” (no sentido de responsabilizar o aluno pelo seu comportamento, indo ao encontro da sua necessidade de auto-determinação); “está quase lá”, em vez de “está quase tudo errado” ou “não fez nada de certo” (no sentido de promover uma percepção de aperfeiçoamento pessoal e o esforço do aluno); “fiquem à vontade para perguntar sempre que não compreenderem alguma explicação ou queiram apresentar algum comentário relevante”, em vez de “não me interrompam, se tiverem dúvidas perguntem no fim” (no sentido de promover a participação dos alunos e a compreensão e o acompanhamento das explicações do professor).

Também a aprendizagem e a motivação dos alunos depende da identificação destes com o professor. No entanto, verifica-se que muitos alunos apresentam insucesso funcional, isto é, a sua aprendizagem ou saber não corresponde ao que seria de esperar dado o nível de escolaridade, e muitos encontram-se desmotivados relativamente às tarefas escolares. Esta situação constitui um dos principais problemas para os professores. Numa investigação, verificou-se que a maioria dos professores considera que mais de metade dos seus alunos se encontram desmotivados para o estudo, sentindo que, mesmo que queiram, não conseguem resolver este problema.

Com base nestes resultados, não obstante devem ser tomadas medidas que permitam restituir o poder aos professores, nomeadamente serem definidos objetivos mínimos de aprendizagem necessários para que os alunos possam transitar para o ano letivo seguinte e serem tidas em conta as notas obtidas desde o início do percurso escolar dos alunos para o ingresso no ensino
superior, tornando-os mais responsáveis e motivados para aprender logo desde os primeiros anos de escolaridade.

domingo, 8 de setembro de 2013

Motivação na Aprendizagem

O Projeto Jornada da Estrela é um projeto educacional que tem a motivação um dos seus principais objetivos. Nossa proposta é levar o aluno a perceber que quem ousa pode realizar os sonhos mais difíceis. 

Nos professores estamos sempre nos perguntando sobre o que devemos fazer para que os alunos realmente sintam-se motivados em aprender. Segundo o dicionário Silveira Bueno, motivação quer dizer exposição ou causas; animação; entusiasmo. Através dessas definições, podemos constatar que estar motivado é estar animado, entusiasmado. Para isso, é necessário ter motivos para se chegar a esse estado.

Qualquer coisa que se faça na vida, é necessário primeiro a vontade de realizá-la, senão nada acontece. Isso também ocorre na educação. Educação requer ação e como resultado dessa ação, há o aprendizado. Mas para que se realize a ação e esta resulte no aprendizado é necessário, inicialmente, que haja a vontade, nesse caso, a vontade de aprender. 

O professor deve descobrir estratégias, recursos para fazer com que o aluno queira aprender, em outras palavras, deve fornecer estímulos para que o aluno se sinta motivado a aprender. Por exemplo nos mostrando disponíveis para o aluno, ou seja, mostrar que ele pode contar sempre com o professor. Devemos sempre procurar elevar a auto-estima do aluno, respeitando-o e valorizando-o. 

Utilizar  métodos e estratégias variadas e propostas de atividades desafiadoras, transformando cada aula um momento de real reflexão é um caminho para mostrar para o aluno que ele pode fazer a diferença, que ele tem o seu lugar e o seu valor no mundo.




sexta-feira, 6 de setembro de 2013


Abertura da Exposição Fotográfica "Jornada da Estrela" na Faculdade Internacional Signorelli




Hoje comemoramos mais uma vez o compromisso de Marcos, Robson e Gilmar. 
Personalizamos o início destas palavras porque sabemos que eles são realmente excepcionais e merecem ser destacados.
Quando eu e toda a equipe de trabalho do Consulado conhecemos o projeto de Jornada da Estrela ficamos fascinados. Ele representava um conjunto de ideais um mais nobre que o outro. E eles estavam se propondo resumir todos eles duma vez.
Dedicação, amizade, compromisso, aventura, formação, amor, progresso... E ainda tem mais.
O interesse do Consulado Geral da Argentina no Rio de Janeiro não veio pela acidental conexão do percurso de um carro que iria atravessar nosso país, mas pela comunhão de princípios e valores entre este projeto e os que queremos que caracterizem a união entre a Argentina e o Brasil.
Ficamos maravilhados com o espírito da travessia e o seu atrevimento. Devemos confessar que em algum momento achamos que poderiam não conseguir. Mas e possível que essa é uma característica comum a todas as empresas ousadas. Conseguir o inacreditável é o que as converte em inesquecíveis e em uma fonte de inspiração.
Robson, Gilmar e Marcos não só foram até o fim do mundo... desde o Rio de Janeiro... e voltaram... em 37 dias... em um carro do ano 1959... alimentado com óleo de fritura... Eles cumpriram com todos seus objetivos. Fizeram amizades em cada ponto que passaram, deixaram uma lembrança em cada pessoa que conheceram. E compartiram cada paisagem que admiraram.
Voltaram e continuaram trabalhando até ser reconhecidos por todo o mundo pelo que tinham conseguido. Hoje, são um exemplo e merecem toda a admiração que recebem.
Sentimos um pouco de inveja “boa” dos alunos que tem a sorte de contar com professores que estão dispostos a fazer o que eles fizeram. Hoje queremos também enviar para eles a mensagem de que saibam aproveitar isso. Tem esta exposição como advertência. Para lembrar que os sonhos são para ser cumpridos e que sempre terão um ajuda nesse caminho se visam alcançá-los pela via dos valores destes três professores do Colégio Brigadeiro Schorcht.

Sebastián D'Alessio, Cônsul Adjunto do Consulado da República da Argentina no Rio de Janeiro.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Pelos alunos da Taquara, eles foram até o "fim do mundo".


Por Leandra Lima, O Globo

Após muito pensarem numa forma de tornar as aulas dos alunos do ensino médio mais atraentes, três professores do Colégio Estadual Brigadeiro Schorcht, na Taquara, criaram um projeto curioso: viajar, de 2 de janeiro a 2 de fevereiro de 2013, pelas principais cidades do Cone Sul a bordo de um Mercedes Benz ano 1959, coletando material e histórias interessantes para serem trabalhados durante o próximo ano letivo com os cerca de dois mil alunos matriculados anualmente neste segmento na escola.

Intitulado “Projeto Jornada da Estrela - Expedição Cone Sul”, a viagem resultará na coleta de dados que serão usados para o Programa do Ensino Médio Inovador (ProEMI). A iniciativa é uma estratégia do governo federal de induzir a restruturação dos currículos do ensino médio com a inserção de atividades que os tornem mais dinâmicos.

Robson Silva Macedo, professor de Ensino Religioso; Marco Aurélio Berão, de Biologia; e Gilmar Guedes, de Filosofia; são os idealizadores da viagem. Os três docentes farão um percurso de mais de 25 mil quilômetros, que passará por Foz do Iguaçu, Atacama, Santiago do Chile, Perito Moreno, Ushuaia (conhecida como a Cidade do Fim do Mundo por ser o ponto mais extremo ao sul da América), Buenos Aires e Montevidéu.

Robson Macedo explica que os três estarão empenhados em fazer um banco de imagens composto de 15 mil a 20 mil fotografias, um documentário, e, por fim, um livro com o balanço da viagem e relatos de bastidores:

— Todo o acervo servirá como material pedagógico interdisciplinar e transdisciplinar que poderá ser usado por nós e por outros professores. Também montaremos uma exposição no Brigadeiro Schorcht, e há possibilidade de ela se tornar itinerante.


Mercedes abastecida por óleo de soja e diesel

Gilmar Guedes explica que boa parte do material coletado pelo trio durante a viagem será organizada para apoiar aulas sobre sustentabilidade. Dono do Mercedes, ele diz que o carro é econômico e será abastecido não só com diesel, mas também com óleo de soja recolhido pelos alunos:

— Quando o carro já estiver quente, passamos, por um sistema de chave, a usar o óleo de soja. O motor do carro é de injeção de bomba mecânica, uma tecnologia antiga que permite o uso deste óleo. Só não podemos deixá-lo esfriar na bomba, porque ele é sete vezes mais viscoso que o diesel e, nesse estado, não é possível dar a partida.

Como diz o professor de Ensino Religioso, Robson Macedo, Gilmar é “gato escaldado” em viagens aventureiras:

— Já fui a todos os países da América do Sul, inclusive às cidades que visitaremos. O passeio em si já valeria a pena, porque as paisagens e a troca de experiência com povos irmãos são incríveis.

Berao acredita que a viagem servirá de motivação para os estudantes irem atrás dos seus sonhos:

— Queremos estimular o aluno que está desmotivado e não vê razões para se manter na escola a determinar uma meta para si e se esforçar para atingi-la. A ideia que queremos passar é: se os professores foram “ao fim do mundo” num carro tão antigo, eu consigo o que quero.

A diretora do colégio, Neide Aparecida de Souza, diz que admira os “três professores maluquinhos” e que está em busca de parceiros:

— O projeto mostra que o professor da rede pública também inova e é criativo. O efeito direto é o aumento da autoestima dos alunos. Já temos parceiros para doar os alimentos que eles vão levar. Estamos atrás de outros.


NOTA: Esta foi a primeira matéria publicada na mídia sobre o projeto Jornada da Estrela - Expedição Cone Sul, em 02 de outubro de 2012.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Projetos Educacionais




Como profissionais da educação, quando pensamos numa sala de aula, buscamos logo as soluções que sejam mais interessantes e viáveis para que os alunos tenham interesse e participação nos conteúdos abordados. Sabemos que existem os programas curriculares com conteúdos adequados a cada ano da educação básica, que acabam dificultando o fazer do professor quanto à elaboração de uma temática onde todos esses conteúdos possam se encaixados.

Isso realmente seria impossível, mas o professor deve planejá-los e organizá-los de acordo com o centro de interesse da turma, de forma interdisciplinar, buscando uma fusão desses conteúdos. Pode-se, por exemplo, numa aula de ciências, fazer experiências concretas, como uma receita de bolo, mostrando o processo de mistura, fermentação e após, solicitar que os alunos façam uma produção de texto do trabalho realizado, para avaliar os aspectos de linguagem escrita, gramática, vocabulário, criatividade e desenvoltura em português.

A proposta de se trabalhar com projetos é justamente a de proporcionar um ambiente favorável ao saber. Por isso propomos que os temas sejam escolhidos juntamente com os alunos, para que esses sintam-se valorizados em suas opiniões e que tenham prazer em estudar e pesquisar aquilo que "querem" e, principalmente, percebam que a sala de aula não é o lugar onde deve-se engolir os conteúdos passados pelos professores, mas um espaço aberto de trocas de conhecimento.

Os temas da atualidade se tornam mais interessantes para as turmas do ensino médio, como sustentabilidade, aquecimento global, poluição, preservação do meio ambiente, biocombustível, dentre vários outros.  É importante que o professor promova espaços para pesquisas, discussões em grupo, montagem de painéis referente aos temas, maquetes, enfim, tudo aquilo que se tornar centro de interesse dos alunos, podendo aprofundar o estudo e o conhecimento a cada dia. E que esses materiais sejam acumulados podendo tornar-se ponto de culminância do estudo, em uma feira ou mostra científico-cultural.

Com certeza, com essa abertura, o sucesso acontecerá, pois um grupo ativo, motivado e envolvido produz muito mais do que os acostumados à passividade. 

Por Jussara de Barros 
(Equipe Brasil Escola)

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Ushuaia


Ushuaia é uma cidade da Argentina e capital da Província da terra do Fogo. Seu nome provém do idioma indígena yagan: ushu + aia (fundo + baia profunda), e é pronunciada em espanhol u'swja.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Do Rio de Janeiro a Ushuaia em um Mercedes-Benz 1959

Pior que não terminar uma viagem é nunca partir. Esta frase de Amyr Klink foi o pretexto para Robson Macedo, Marco Berao e Gilmar Guedes, empreenderem uma expedição que lhes permitiram juntar o Rio de Janeiro (de onde partiram) a Ushuaia, na Terra do Fogo, Argentina. 

O principal objetivo da viagem foi motivar os alunos do Colégio Estadual Brigadeiro Schorcht (CEBS), onde eles lecionam e, especialmente, fornecer uma mensagem ecológica relacionada a importância da gestão ambiental. 

Esta expedição nasceu da necessidade de motivar os alunos, chamar a atenção da sociedade civil e governantes sobre a importância da educação, que deve ser sempre uma prioridade. Este é o primeiro objetivo da expedição. A intenção era fazer uma viagem por muitas regiões do Cone Sul: sul do Brasil, Uruguai, Argentina e Chile, com uma mercedes-benz fabricada em 1959.



Três professores brasileiros em uma insólita travessia que uniu 4 países

Partiram do Rio de Janeiro, passaram por Montevidéu e a Argentina, chegaram a Ushuaia, cruzaram o Chile e, no retorno, estiveram em Santa Fé. O objetivo da aventura: uma cruzada a favor da educação e da ecologia.
Por Luciano Andreychuk*
landreychuk@ellitoral.com

Longe de suas acepções psiquiátricas, em algumas circunstâncias pode-se ver a loucura como um valor. Esse tipo de "loucura linda", criativa, inquieta e talvez romântica, que busca a utopia de um mundo melhor, ou ao menos um pouco mais habitável. Algo disso compartilham estes três professores brasileiros que um dia, cansados do desprezo humano pela natureza, da falta de motivação nas aulas e do individualismo dos celulares e computadores, decidiram empreender uma expedição pelo Cone Sul, uma viagem que se tornaria mais que uma aventura, uma mensagem.

Robson Silva Macedo (professor de Ensino Religioso), Marco Aurelio Berao (Biologia) e Gilmar Guedes (Filosofia), resgataram em um ferro-velho e reformaram uma velha e oxidada Mercedes-Benz modelo 1959. Adaptaram um sistema de biocombustível a base de óleo de cozinha reciclado (sobras das frituras). Carregaram alguns utensílios, barraca, mapas e câmeras fotográficas, e partiram do Rio de Janeiro. Cruzaram pelo Uruguai, pelo centro da Argentina e se dirigiram até a Patagônia.

Chegaram nada menos que em Ushuaia, o "Fim do Mundo", e já anestesiados com tanta beleza paisagística, geográfica e cultural, colocaram-se de volta pela cordilheira chilena. Rumaram para Mendoza (Argentina) e em seguida à Córdoba, e daí chegaram a Santa Fé. De Santa Fé empreenderam o último trecho da jornada até o Rio de Janeiro, o ponto de partida e de retorno. Postaram em sua página no facebook: "Amigos, depois de 37 dias de viagem, 20 mil km percorridos, 22 mil fotos e 30 horas de vídeo, chegamos em casa."



Claudia Neil (centro) secretaria de turismo do município de Santa Fé, Argentina, com jornalistas em uma coletiva de imprensa sobre a Jornada da Estrela.

Projeto

O projeto expedicionário se denominou "Jornada da Estrela: Expedição Cone Sul". Uniu quatro países (Brasil, Uruguai, Argentina e Chile), demandou 37 dias de viagem e mais de 20 mil quilômetros percorridos, em uma relíquia automotiva fabricada a mais de meio século, que só podia acelerar a 70km/h.

O objetivo da experiência foi recolher informações geográficas e culturais sobre o continente (foram feitos vídeos, fotografias e testemunhos da população) que serão utilizados em um vídeodocumentário e exposições. Porém, e principalmente, os aventureiros quiseram deixar uma mensagem cheia de boas intenções: respeito a educação e ao meio ambiente.

"Como professores, queremos chamar a atenção sobre a importância da educação para as novas gerações, hoje mais ligadas aos celulares e as redes sociais que aos valores humanos, mostrando com esta viagem, que com sacrifício, autodisciplina e esforço pode-se buscar qualquer coisa. E também deixar uma mensagem positiva a favor do cuidado com a ecologia", falou à imprensa Gilmar Guedes durante sua breve passagem pela cidade de Santa Fé, onde os expedicionários foram recebidos pela subsecretária de Turismo Municipal, Claudia Neil.

A educação como prioridade.

"A aventura tem como objetivo motivar os nossos alunos (os três professores lecionam em um colégio de ensino médio, Brigadeiro Schorcht, da rede pública estadual do Rio de Janeiro, que tem 2 mil alunos matriculados) e chamar a atenção da sociedade sobre a importância da educação, que deve ser entendida como uma prioridade. Queríamos demonstrar com a expedição que com esforço, autodisciplina e confiança, podemos fazer o que desejamos. Esta é a mensagem que queremos passar em nossas aulas", contou Gilmar.

Outro aspecto da jornada foi a proposta do registro em imagens. "Reunimos vídeos e fotografias das estepes patagônicas, da Terra do Fogo, do Aconcágua, da maravilhosa natureza argentina. Com tudo isso, faremos um videodocumentário que servirá como material de estudos para os alunos, incluindo temas transversais, desde a geografia à política desta parte do continente, com forte acento no cuidado da natureza e no meio ambiente", ressaltou o professor.

Peripécias

"Nos passou de tudo: rompimento dos rolamentos após contemplamos os pinguins no sul; acampamos em barracas; enfrentamos a desolação e ao mesmo tempo a beleza da Patagônia, com guanacos passando ao lado. Às vezes discutimos por uma maça e ovos...", brincou Gilmar. Com 35 dias de viagem, a convivência teve suas dificuldades e obrigou os aventureiros a conservarem a paciência e a perseverança. "Porém, nós não fizemos isso por que era fácil, pelo contrário, fizemos porque era difícil. Era um desafio. E estudar também é um desafio, que exige entusiasmo, perseverança e paixão. Essa é a mensagem", disse ele.

O carro estava cheio de adesivos de universidades, governos locais, e do Consulado argentino no Rio de Janeiro e do Consulado brasileiro em Mendoza. Os aventureiros contaram com o apoio institucional e econômicos de alguns poucos amigos. "A expedição terminará em poucos dias no pátio da nossa escola. Ansiamos ver como nos receberam os alunos", encerrou Gilmar.

*Publicado no diário El Litoral. Traduzido por Robson Silva Macedo com adaptações.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Na mídia: SinMordaza



Na mídia: El Litoral

Patagônia


Muitos dos nomes dados a regiões e lugares na América do Sul se devem ao navegador português Fernão de Magalhães (1480-1522) que, a serviço da Coroa Espanhola, liderou a primeira viagem de circunavegação do globo terrestre, por volta de 1520, data em que descobriu a passagem marítima que acabou por ganhar seu nome: Estreito de Magalhães. Fernão de Magalhães ficou impressionado com o espetáculo das fogueiras indígenas acesas em terra firme e batizou a região como Tierra del Fuego. Deve-se acrescentar que foi esse mesmo navegador quem deu o nome ao Oceano Pacífico, depois de passar por dificuldades de toda ordem na árdua travessia do Estreito e se deparar com aquele oceano calmo à sua frente. Mas isso é outra história.

Tornou-se comum ouvirmos falar da Patagônia nesses últimos anos, particularmente após a estruturação do Mercosul. Patagônia advém dos povos primitivos que habitavam o extremo sul do continente. Quando Fernão de Magalhães teve seu primeiro contato com esses povos, ficou impressionado com sua altura incomum e o tamanho de seus pés, que pareciam ainda maiores por estarem sempre calçados com pele de animais engenhosamente adaptadas em formato de prancha, para facilitar a caminhada na neve. Não custou muito para que os integrantes da expedição passassem a designar esses nativos de Patas Grandes ou, em espanhol arcaico, patagones. Daí a origem do nome Patagônia, a Terra dos Patagones.

Convém acrescentar que um dos poucos sobreviventes da expedição de Magalhães, Antonio Pigafetta, descreveu os Tehuelches como “gigantes”, que tinham o “dobro do tamanho” dos marujos. Um exagero típico de marinheiro, sem dúvida! É certo, contudo, que esses povos possuíam altura incomum para a época, acima de 1,70m. Só para ilustrar, esse mesmo Pigafetta descreveu os pinguins como "galinhas difíceis de depenar e com carne com gosto de peixe".



À medida que avançava em direção ao extremo sul, a expedição espanhola se deparou com enorme ilha e adentrou a passagem marítima que a separava do continente. Essa passagem seria chamada mais tarde de Estreito de Magalhães. Lá, nesta ilha, os expedicionários encontraram outros nativos que, curiosos com o tamanho de suas embarcações, se aproximavam da margem para ver de perto aqueles seres esquisitos que vinham de longe. Além dos Tehuelches, foi também registrada a presença de outras tribos na região, particularmente os Onas e Yámanas.

Esses povos tinham um ritual interessante: manter as fogueiras que aqueciam suas aldeias eternamente acesas. Claro, se elas se apagassem em algum momento seria um problema reacendê-las numa temperatura que chega fácil aos 10 graus negativos. Portanto, era mais sábio ficar jogando lenha na fogueira antes que o fogo se acabasse de vez. Uma questão óbvia de sobrevivência!

À noite, Fernão de Magalhães e sua turma ficavam lá do oceano, a bordo de sua frota, apreciando aquela terrinha gelada, montanhosa, belíssima e, à distância, viam centenas de clarões oriundos dessas fogueiras que nunca se apagavam. Parecia que a terra estava pegando fogo... E assim, a região ganhou esse nome contraditoriamente fantástico: Terra do Fogo (ou Tierra del Fuego). Aliás, diga-se de passagem, nomenclatura bastante inadequada para uma região que fica coberta de neve mais da metade do ano.

Deve-se acrescentar que o nome do Canal de Beagle decorre da embarcação que levou Charles Darwin em sua viagem de pesquisa em derredor do mundo (quando desenvolveu a Teoria da Evolução), o HMS Beagle, capitaneado pelo comandante inglês Fitz Roy (que também deu nome a uma das montanhas mais belas das Américas).