terça-feira, 27 de agosto de 2013

Do Rio de Janeiro a Ushuaia em um Mercedes-Benz 1959

Pior que não terminar uma viagem é nunca partir. Esta frase de Amyr Klink foi o pretexto para Robson Macedo, Marco Berao e Gilmar Guedes, empreenderem uma expedição que lhes permitiram juntar o Rio de Janeiro (de onde partiram) a Ushuaia, na Terra do Fogo, Argentina. 

O principal objetivo da viagem foi motivar os alunos do Colégio Estadual Brigadeiro Schorcht (CEBS), onde eles lecionam e, especialmente, fornecer uma mensagem ecológica relacionada a importância da gestão ambiental. 

Esta expedição nasceu da necessidade de motivar os alunos, chamar a atenção da sociedade civil e governantes sobre a importância da educação, que deve ser sempre uma prioridade. Este é o primeiro objetivo da expedição. A intenção era fazer uma viagem por muitas regiões do Cone Sul: sul do Brasil, Uruguai, Argentina e Chile, com uma mercedes-benz fabricada em 1959.



Três professores brasileiros em uma insólita travessia que uniu 4 países

Partiram do Rio de Janeiro, passaram por Montevidéu e a Argentina, chegaram a Ushuaia, cruzaram o Chile e, no retorno, estiveram em Santa Fé. O objetivo da aventura: uma cruzada a favor da educação e da ecologia.
Por Luciano Andreychuk*
landreychuk@ellitoral.com

Longe de suas acepções psiquiátricas, em algumas circunstâncias pode-se ver a loucura como um valor. Esse tipo de "loucura linda", criativa, inquieta e talvez romântica, que busca a utopia de um mundo melhor, ou ao menos um pouco mais habitável. Algo disso compartilham estes três professores brasileiros que um dia, cansados do desprezo humano pela natureza, da falta de motivação nas aulas e do individualismo dos celulares e computadores, decidiram empreender uma expedição pelo Cone Sul, uma viagem que se tornaria mais que uma aventura, uma mensagem.

Robson Silva Macedo (professor de Ensino Religioso), Marco Aurelio Berao (Biologia) e Gilmar Guedes (Filosofia), resgataram em um ferro-velho e reformaram uma velha e oxidada Mercedes-Benz modelo 1959. Adaptaram um sistema de biocombustível a base de óleo de cozinha reciclado (sobras das frituras). Carregaram alguns utensílios, barraca, mapas e câmeras fotográficas, e partiram do Rio de Janeiro. Cruzaram pelo Uruguai, pelo centro da Argentina e se dirigiram até a Patagônia.

Chegaram nada menos que em Ushuaia, o "Fim do Mundo", e já anestesiados com tanta beleza paisagística, geográfica e cultural, colocaram-se de volta pela cordilheira chilena. Rumaram para Mendoza (Argentina) e em seguida à Córdoba, e daí chegaram a Santa Fé. De Santa Fé empreenderam o último trecho da jornada até o Rio de Janeiro, o ponto de partida e de retorno. Postaram em sua página no facebook: "Amigos, depois de 37 dias de viagem, 20 mil km percorridos, 22 mil fotos e 30 horas de vídeo, chegamos em casa."



Claudia Neil (centro) secretaria de turismo do município de Santa Fé, Argentina, com jornalistas em uma coletiva de imprensa sobre a Jornada da Estrela.

Projeto

O projeto expedicionário se denominou "Jornada da Estrela: Expedição Cone Sul". Uniu quatro países (Brasil, Uruguai, Argentina e Chile), demandou 37 dias de viagem e mais de 20 mil quilômetros percorridos, em uma relíquia automotiva fabricada a mais de meio século, que só podia acelerar a 70km/h.

O objetivo da experiência foi recolher informações geográficas e culturais sobre o continente (foram feitos vídeos, fotografias e testemunhos da população) que serão utilizados em um vídeodocumentário e exposições. Porém, e principalmente, os aventureiros quiseram deixar uma mensagem cheia de boas intenções: respeito a educação e ao meio ambiente.

"Como professores, queremos chamar a atenção sobre a importância da educação para as novas gerações, hoje mais ligadas aos celulares e as redes sociais que aos valores humanos, mostrando com esta viagem, que com sacrifício, autodisciplina e esforço pode-se buscar qualquer coisa. E também deixar uma mensagem positiva a favor do cuidado com a ecologia", falou à imprensa Gilmar Guedes durante sua breve passagem pela cidade de Santa Fé, onde os expedicionários foram recebidos pela subsecretária de Turismo Municipal, Claudia Neil.

A educação como prioridade.

"A aventura tem como objetivo motivar os nossos alunos (os três professores lecionam em um colégio de ensino médio, Brigadeiro Schorcht, da rede pública estadual do Rio de Janeiro, que tem 2 mil alunos matriculados) e chamar a atenção da sociedade sobre a importância da educação, que deve ser entendida como uma prioridade. Queríamos demonstrar com a expedição que com esforço, autodisciplina e confiança, podemos fazer o que desejamos. Esta é a mensagem que queremos passar em nossas aulas", contou Gilmar.

Outro aspecto da jornada foi a proposta do registro em imagens. "Reunimos vídeos e fotografias das estepes patagônicas, da Terra do Fogo, do Aconcágua, da maravilhosa natureza argentina. Com tudo isso, faremos um videodocumentário que servirá como material de estudos para os alunos, incluindo temas transversais, desde a geografia à política desta parte do continente, com forte acento no cuidado da natureza e no meio ambiente", ressaltou o professor.

Peripécias

"Nos passou de tudo: rompimento dos rolamentos após contemplamos os pinguins no sul; acampamos em barracas; enfrentamos a desolação e ao mesmo tempo a beleza da Patagônia, com guanacos passando ao lado. Às vezes discutimos por uma maça e ovos...", brincou Gilmar. Com 35 dias de viagem, a convivência teve suas dificuldades e obrigou os aventureiros a conservarem a paciência e a perseverança. "Porém, nós não fizemos isso por que era fácil, pelo contrário, fizemos porque era difícil. Era um desafio. E estudar também é um desafio, que exige entusiasmo, perseverança e paixão. Essa é a mensagem", disse ele.

O carro estava cheio de adesivos de universidades, governos locais, e do Consulado argentino no Rio de Janeiro e do Consulado brasileiro em Mendoza. Os aventureiros contaram com o apoio institucional e econômicos de alguns poucos amigos. "A expedição terminará em poucos dias no pátio da nossa escola. Ansiamos ver como nos receberam os alunos", encerrou Gilmar.

*Publicado no diário El Litoral. Traduzido por Robson Silva Macedo com adaptações.