quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Merenda, diploma e bala de borracha

Por João Batista Damasceno

A truculência da polícia do estado contra professores é apenas uma das que se praticam contra a sociedade. É forma de impedir que floresça, na primavera, o projeto dos educadores, que não é apenas salário, mas educação pública de qualidade, coisa que governos subordinados aos interesses dos "senhores de engenho contemporâneo" não aceitam. E não poderiam aceitar, pois contrapõe aos seus interesses.

O educador Paulo freire disse que "seria atitude muito ingênua esperar que a classe dominante desenvolvesse uma educação de forma que permitissem aos dominados perceberem as injustiças sociais de forma crítica".

Quando o coronel Jarbas Passarinho era ministro da Educação de Médici, Lauro de Oliveira Lima escreveu um livro com o sugestivo nome de "Estórias da educação no brasil: de Pombal a Passarinho". A questão sempre foi: quem dirigirá a Educação, quem serão os educadores, quem será educado e para que se educará? No Império e República Velha os filhos da elite eram formados pela Igreja ou em escolas europeias, para onde iam a fim de se socializarem para o colonialismo cultural.

A Revolução de 30 retomou o dilema: quem educará os filhos do povo no país em transformação? A Igreja pretendeu a função, a fim de formar ao seu modo. Mas Getúlio Vargas optou pela educação pública, republicana e única capaz de formar cidadãos com valores comuns, e foram criados Institutos de Educação, escolas diversas e Universidades Federais. O educador Anísio Teixeira desenvolveu projeto educacional, e Darcy Ribeiro também teve o seu papel.

Na atualidade, desmontam-se os direitos dos trabalhadores no Brasil e extinguem a educação pública de qualidade para os seus filhos. Escolas particulares formam grupos e segmentos da elite, com visões particularizadas. É proposital o desmonte do ensino público que formaria cidadãos qualificados, capazes da transformação social. O que os governantes desejam oferecer aos filhos dos trabalhadores não é Educação. Mas apenas merenda e diploma.

João Batista Damasceno é Doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito. Membro da Associação Juízes para a Democracia


Nenhum comentário:

Postar um comentário