terça-feira, 27 de maio de 2014

Professores em greve por uma educação melhor


Por Mônica Raouf El Bayeh


Parece brincadeira, mas não é. Os professores grevistas foram impedidos pela administração do Norte Shopping (Rio de Janeiro) de entrar para panfletar suas ideias e reivindicações.

Professor agora é barrado em shopping? Também, com o salário que recebem, iam comprar o que?

O que a administração do shopping temia? Que os professores quebrassem? Roubassem? A  falta de respeito do Shopping com os professores apenas reflete o descaso geral com que se enxerga a educação por aqui. O mesmo descaso que faz com que os professores sejam covardemente agredidos durante a greve.

Os professores não queriam fazer um rolezinho, conforme foi dito por aí. Nem estavam de brincadeira. Querem falar de suas aflições, panfletar suas ideias, contar suas agruras. É crime? Os professores em greve não são os bandidos maus que deixam criancinhas sem aula. São profissionais conscientes que decidiram lutar por uma educação eficaz e de qualidade.

Crime é calar quando milhares de crianças estão sendo roubadas de suas chances de uma educação digna e um futuro melhor. Os professores não estão na rua apenas por um salário melhor. Se estivessem, também não vejo erro aí. Professores querem ganhar mais? Você também não quer?

Não se baseiem nas propagandas que se aparecem por aí. Notícias de que o magistério vai receber aumento de salário. Na enorme maioria das vezes, não é bem assim. Não é uma falha sua de interpretação de texto. É uma falha do texto que não conta exatamente o que vai acontecer. Ilude quem está longe. Irrita quem está perto e sabe.

Os professores saíram das salas e estão na rua pelos alunos. Estão nas ruas para que o povo saiba aqui fora o que se passa dentro das salas de aula porque se divulga um quadro completamente diferente do real. Quem está aqui fora não imagina a angústia que cresce na alma de cada professor ao se ver de pés e mãos atados. Professores e alunos sem vez e sem voz. Basta!

É preciso abrir o livro e o verbo. Não dá mais para enganar o povo fingindo que se ensina quando é mais do que sabido que não nos dão condições para isso.

É preciso juntar B com A e mostrar que não há investimento real e concreto na educação. Educação é conta de menos, sem adição. Porque povo educado pensa e quem pensa, vota melhor. Talvez o voto consciente não interesse tanto, será por isso que a educação vem sendo sucateada?

Educar incomoda porque provoca mudanças. Ensinamos tantos a ler, sim. E os outros tantos que não aprendem? E os que chegam cheios de dificuldades e a gente corre atrás, mas não tem para onde indicar?

Chega de fingir que os alunos sabem, passaram de ano e foram bem. Chega de sermos obrigados a aprovar quem não tem condição de ir em frente. É preciso lutar pela melhoria verdadeira da educação. Porque só assim, teremos um país melhor e a possibilidade de uma vida digna não só para alguns, mas para todos.

Um país onde as pessoas possam falar de suas condições sem balas de borracha, sem gás. Onde as pessoas possam aprender sem notas maquiadas para falsificar estatísticas.

Um país onde todos possam ir e vir normalmente até em shoppings, por exemplo.