Cunhambebe foi um cacique tupinambá, líder da Confederação dos Tamoios, formada por volta de 1560. Teria nascido na localidade de Ariró, maior distrito do município de Angra dos Reis. Tornou-se temido pelos portugueses, contra os quais obteve várias vitórias até sua morte por varíola. Hoje, Cunhambebe empresta seu nome ao parque estadual que abrange parte dos municípios de Mangaratiba, Angra dos Reis, Rio Claro e Itaguaí, e protege uma ampla região de mata atlântica nativa, com sítios históricos e áreas de grande potencial para o ecoturismo, assegurando a preservação de inúmeras espécies animais e vegetais ameaçadas.
Decidimos fazer uma pequena expedição como proposta de ensaio a nossa “Jornada da Estrela”. O fato do Marco ter sido administrador deste parque estadual e conhecer muito bem a região contribui para fecharmos a idéia da viagem. Esta região apresenta trechos de estrada com longas subidas e descidas, o que seria muito interessante para o propósito estratégico do uso da Mercedes-Benz do Gilmar, uma Ponton 190 ano 1958. O carro tem o mesmo motor do furgão MB 190D que utilizaremos na “Jornada da Estrela – Expedição Cone Sul” e serviria para sentirmos o comportamento do motor diesel na estrada além de outros ensaios, tais como desempenho, velocidade, tempo de percurso e gastos com combustível.
Havíamos adiado por um dia a breve jornada, por conta das obrigações pendentes do Colégio Brigadeiro Schorcht. Partimos às 8h da quinta-feira, 19 de julho. Não estava me sentindo bem naquela manhã. Estava há três dias com uma forte gripe e o tempo frio e chuvoso não colaborava. Como a nossa proposta era uma pequena expedição de 24h, decidi que a ida adoentado seria uma boa oportunidade de preparação à eventuais contratempos a longa expedição de janeiro próximo.
A Ponton é um automóvel que chama a atenção. É um clássico. Desde o momento de nossa partida e durante toda a viagem, por onde passávamos eram olhares e comentários sobre o carro. Os aficionados buzinavam, outros queriam saber detalhes do carro. Gilmar todo orgulhoso, sonhava com a sua próxima grande aventura: Rio de Janeiro ao México na Ponton. Mas isso é outra história, inclusive a compra e a reforma deste carro renderá outra grande história.
Iniciamos nossa viagem pela estrada do Catonho em direção a Avenida Brasil por Realengo. A saída do Rio foi tranqüila pela Rio-Santos trecho da BR-101 até Angra dos Reis. A Ponton comportou-se muito bem. Angra dos Reis é uma cidade que abriga um centro histórico com inúmeras atrações e pontos turísticos que valem a pena uma visita especial. Foi uma das primeiras regiões descobertas no Brasil. A expedição comandada pelo navegador português Gonçalo Coelho chegou, em 6 de janeiro de 1502, a uma baía ou angra que a todos encantou. Batizaram-na, então, de Angra dos Reis, em homenagem à visita dos Três Reis Magos ao menino Jesus, que é comemorada nesse dia. A vila ali construída recebeu inicialmente o nome de Vila dos Três Santos Reis, depois Vila de Angra dos Reis e finalmente Angra dos Reis.
Foi uma das primeiras regiões descobertas no Brasil e possui uma exuberante beleza natural, praias lindíssimas com águas de um azul resplandecente, montanhas verdejantes, rios e florestas. Angra dos Reis tem além dos seus incontáveis atrativos culturais, muita história para contar. São construções dos séculos XVII e XVIII que incluem imponentes conventos, igrejas (a mais antiga construída em 1593), monumentos e ermidas.
Saimos da BR-101 e pegamos a RJ-155 em direção a Rio Claro. Nosso objetivo é Lidice. A cidade recebeu esse nome em 1944 em homenagem à vila tcheca que durante a Segunda Guerra Mundial foi vítima de um massacre de toda sua população pelos nazistas. O trecho até a cidade foi sinuoso mais bem tranquilo. A Ponton subiu a serra bravamente.
O Parque Cunhambebe protege uma região de vegetação nativa, formando quase um contínuo florestal com o Parque Nacional da Serra da Bocaina e a Terra Indígena de Bracuhy, o que assegura a preservação de espécies animais e vegetais ameaçadas com a fragmentação dos remanescentes da Mata Atlântica. Por esta razão, 95% de sua área é representada por matas bem conservadas – apesar de predominantemente secundárias. No parque podemos encontrar árvores frondosas, como angicos, cedros e jequitibás. As florestas abrigam monos carvoeiros, lontras e queixadas, além de espécies ameaçadas, como antas e onças. Na superfície da represa podem ser avistados patos selvagens e martins pescadores. O Parque contém também as ruínas da vila de São João Marcos e da estrada imperial que a ligava a Mangaratiba.
Na área do parque estão incluídas parcialmente 13 bacias hidrográficas, entre as quais algumas importantes para o abastecimento de água do estado do Rio de Janeiro, como a Bacia da Represa de Ribeirão das Lajes. Entre as várias áreas de potencial interesse turístico estão o Pico do Sinfrônio, com aproximadamente 1.600m, em Angra dos Reis, e o Pico das Três Orelhas, com mil e cem metros, em Mangaratiba. Trilhas, cachoeiras e paredões para escalada são as principais atrações para os adeptos dos esportes de aventura.
O parque também terá áreas de relevante interesse histórico, como a antiga Estrada Imperial, no Distrito de São Marcos, em Mangaratiba, que conta com mirantes, edificações e ruínas típicas do período colonial.
O setor do Ribeirão das Lages fica em Rio Claro e circunda a represa, contendo as ruínas da vila de São João Marcos. Era uma linda cidade, uma espécie de Parati rural. Ela foi tragicamente evacuada e demolida, pois seria submersa pela represa, fato que acabou nunca ocorrendo. Nas proximidades, há os vestígios das calçadas e dos muros da estrada imperial que ligava esta vila a Mangaratiba, incluindo a Ponte Bela, esta sim parcialmente submersa. Adjacente a este setor, fica o da Serra do Piloto, cujo longo perfil recortado é visível das ruínas de São João Marcos. Nele ocorrem algumas quedas d´água pequenas, como as Cachoeiras dos Escravos, do Rubião e da Bengala, distribuídas pela zona rural.
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